Opinião

A inteligência artificial, a raposa e as uvas...

Por Manoel Jesus

Educador

manoeljesus.blogspot.com

Em 1970, completava 15 anos. É desta época as minhas mais remotas lembranças de preocupação com novas tecnologias. Acessávamos televisão com um número reduzido de canais, rádio em AM (amplitude modulada), algum jornal e revista de vez enquanto, e o cinema. Raramente apareciam circos e teatros populares. Naquele ano, aconteceu a Copa do Mundo de Futebol e ganhei o primeiro radinho de pilhas, com fones, embora se preferisse andar com ele colado ao ouvido, especialmente nas partidas de futebol.

Olhava-se para o futuro sem muita expectativa. Parecia difícil se ultrapassar os anos 2000. Faltavam 30 anos... eram muitas águas passando! Pois elas vieram e se foram. Neste meio tempo, concretizou-se a maior revolução que a comunicação já teve. Os meios convencionais se expandiram, somando-se à informática, internet, robótica, holografia e, finalmente, a inteligência artificial. Talvez se tenha dificuldade em dizer o que vai acontecer, mas é preciso reconhecer que fomos, literalmente, atropelados.

 gosto por produção de texto levou a sonhar com o computador e as alternativas que oferecia à máquina de escrever. Graças a isto, cheguei a professor em Comunicação Social na UCPel. Novidades se empilhavam. Mais importante do que estar atualizado, foi ajudar alunos a terem noção crítica do que era necessário para desempenhar suas atividades. O encantamento precisava dar lugar ao profissionalismo. Discernindo o meio como instrumento potencializador da sua proximidade com o público leitor.

Aposentado, passei a compartilhar textos por jornais e redes sociais. Infelizmente, depois de um tempo, o próprio leitor se acostuma em receber periodicamente as produções e deixa de comentar. O que é pena, pois quem escreve necessita de um retorno como forma não somente de "acariciar seu ego", mas de avaliação da qualidade, clareza e compreensão do que produz. O período da pandemia foi o ponto alto do feedback dado pelos leitores que, estando em casa, tinham mais tempo para interagir.

Quando o Google fez seus primeiros experimentos, passei a utilizar o "Bard" e, depois, veio o "Gemini". Aprontava um texto e já submetia à inteligência artificial que faz uma dissecagem, análise do conjunto, com sugestões de interpretação e da forma como pode ser utilizado pelo leitor. É tudo o que se deseja de um amigo "vítima" dos nossos textos quando se quer outra opinião, de quem se debruça sobre o que se produziu e se tem a expectativa do que pode acontecer ao ser publicado, depois de deixar nossas mãos...

Meu caso com a inteligência artificial é recente. Reconheço as críticas, mas exploro as potencialidades. Assim como o emaranhado mundo dos computadores, não sei o que se passa na teia de neurônios de cada leitor. Não custa repetir: a inteligência artificial é mais um dos meios colocados à disposição das pessoas para que se possa viver melhor. Ao longo da história, os detratores das novas tecnologias parecem como a raposa de Esopo, andando por debaixo da parreira, sem conseguir alcançar as uvas, que estão lá, viçosas e cheirosas. Simplesmente resmunga: "não as quero, elas estão verdes!"

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